Uma "benção disfarçada". Isto foi o que eu me treinador me disse depois ter apresentado significativas melhorias no estiramento no gémeo após algum descanso e um abrandar no ritmo dos treinos. Ou seja, o que ele me tentou transmitir foi a confiança que a minha forma física não iria ser afetada pela mudança no plano de treinos e que tudo o que havíamos treinado até agora, iria-se refletir na São Silvestre da Amadora. E assim foi.
Esta altura do ano, pelo menos para mim, é propícia a desligar-me um bocado do mundo das corridas. Continuo a apostar nos treinos (até como forma de me dar margem para a mesa de Natal eheheh), continuo a estar atento às provas típicas da época, mas desligo um pouco o chip competitivo. Só mesmo quando cheguei a sábado de manhã, quando fui buscar o dorsal, é que o pensamento bateu: "hoje é dia de prova".
Depois de combinar à última da hora com o Rui Martins, seguimos os dois para a Amadora. Apesar de lá estarmos uma hora antes, já se sabe que o tempo passa num instante. Tive a presença do meu treinador no público e deu-me conselhos que são bastante importantes numa prova destas.
Durante o aquecimento reparei que o meu dorsal tinha um selo dourado e que o do Rui não tinha. Encontrámos alguém da organização e perguntámos o que era aquilo. O selo significava acesso ao bloco da elite. Posso dizer de forma humilde que não é nada que não esteja habituado. Mas nesta prova, estar ao lado de tantos atletas que a vida deles é o atletismo e nem sequer fazem ideia de quem eu sou... não fazem ideia do nervoso miudinho que me deu.
Partida dada. Sentia-me bem e segui naquele ritmo louco das primeiras centenas de metros ouvindo à minha volta os gritos das centenas de pessoas nas ruas da Amadora. Ainda nem tinha acabado o primeiro quilómetro e já estava separado o trigo do joio. Um grande grupo de atletas em que se destacava as camisolas vermelhas e verdes do Benfica e do Sporting seguia já quase uma centena de metros à minha frente. Facto engraçado: estou habituado a confundirem o meu equipamento com as cores de atletas espanhóis. Mas só em provas noturnas é que algum público teima em gritar pelo Benfica quando me vê passar. Mas pronto que gritem e berrem que o pessoal gosta!
Dois quilómetros e duzentos metros depois, a primeira subida da Amadora deu tréguas e até aos 3 quilómetros foi possível recuperar o folgo. Mas não foi tempo de abrandar. Algumas posições que eu ganhei a subir, foram logo ameaçadas na descida. Segui num bom esforço em ritmos perto dos 3:10\km.
Um pensamento que tive várias vezes durante a prova, foi o facto de me sentir bastante bem em ritmos altos quando seguia em plano. É sinal de evolução e sinal que podem vir meses de algumas surpresas em 2017. Mas estes pensamentos na Amadora duram pouco. Quando dei por mim na famosa subida dos Comandos que este ano foi reintroduzida na prova. Quem me acompanha sabe que o ano passado foi a primeira vez que fiz esta prova e por isso mesmo não estava preparado mentalmente para a subida que vi à minha frente meio do 5º km. Puxei dos galões e segui num ritmo certinho e quando a respiração estava a atingir níveis preocupantes uma senhora que estava no meio da estrada a apoiar os atletas "gritou-me" para eu controlar a respiração que a subida estava quase a acabar. E assim começou a segunda parte da prova.
Até agora ainda não mencionei uma coisa. Não sei porquê, mais uma vez cai num vazio classificativo, seguindo praticamente sempre sozinho apenas com alguns atletas no meu horizonte. Mesmo nesta prova com um maior nível de competitividade, não consegui encontrar ninguém com quem entrar em despique. Sim porque a verdade é competitividade é saudável, quer na frente, no meio ou no fim do pelotão. É ela que nos faz transcender.
Mas a partir dos 6/7 quilómetros isto mudou. Um atleta do CUAB que até costuma ficar à minha frente em provas de 10km apanhou-me seguindo em grande ritmo e eu aproveitei a embalagem para seguir com ele. Os últimos dois quilómetros sempre a descer não me foram muito benéficos e segui sempre um pouco mais atrás que ele. Já no último quilómetro tive a surpresa de ouvir o meu treinador gritar por mim e dizer-me que quem seguia à minha frente estava quase a rebentar. Foi ai que eu cometi um erro. Pensei que estava já na reta para a rotunda antes da meta e fiz um esforço enorme para acelerar e quando dou por mim estou na penúltima rotunda em que se faz a última viragem. E senti que psicologicamente e fisicamente dei o estoiro. Podem ver pela minha cara na foto em baixo.
Mas passados alguns segundos tornei a sentir que as forças voltavam e voltei a ouvir as palavras de incentivo do meu treinador e comecei a puxar dos galões. Chegámos à rotunda antes da reta da meta e consigo pôr-me lado a lado com o atleta que seguia à minha frente (eu estava a sprintar autenticamente) e ele quando me sente também começa a sprintar sendo ali uns segundos de despique brutal e nem percebi quem passou a linha da meta primeiro. Sei que simplesmente foi um final brutal.
Terminei a prova com um tempo oficial de 33m50s, melhorando em 24 segundos face ao ano passado e num circuito que pareceu-me que foi mais difícil ainda. Classifiquei-me em 21º da geral (o ano passado fiquei em 31º) e em 19º do meu escalão. Quando olhei para o relógio depois da meta foi uma felicidade enorme que passou pelo corpo. O sentimento de objetivo cumprido é incrível.
Tenho que agradecer ao meu treinador André Filipe pelo trabalho que tem feito comigo, pois esta preparação toda parte da cabeça dele. E o melhor ainda está para vir! E podia-me desdobrar aqui em agradecimentos a toda a gente que me apoia direta e indiretamente mas este post nunca mais acabava! Obrigado a todos!
E poderia dizer que agora é voltar aos treinos em força mas há quem tenha juízo por mim e seguem-se dias de descanso com treinos curtos e com pouca intensidade. Vão saber pouco bem este dias vão :) Um feliz ano para todos!
Resultados: 42ª São Silvestre da Amadora
Esta altura do ano, pelo menos para mim, é propícia a desligar-me um bocado do mundo das corridas. Continuo a apostar nos treinos (até como forma de me dar margem para a mesa de Natal eheheh), continuo a estar atento às provas típicas da época, mas desligo um pouco o chip competitivo. Só mesmo quando cheguei a sábado de manhã, quando fui buscar o dorsal, é que o pensamento bateu: "hoje é dia de prova".
Depois de combinar à última da hora com o Rui Martins, seguimos os dois para a Amadora. Apesar de lá estarmos uma hora antes, já se sabe que o tempo passa num instante. Tive a presença do meu treinador no público e deu-me conselhos que são bastante importantes numa prova destas.
Durante o aquecimento reparei que o meu dorsal tinha um selo dourado e que o do Rui não tinha. Encontrámos alguém da organização e perguntámos o que era aquilo. O selo significava acesso ao bloco da elite. Posso dizer de forma humilde que não é nada que não esteja habituado. Mas nesta prova, estar ao lado de tantos atletas que a vida deles é o atletismo e nem sequer fazem ideia de quem eu sou... não fazem ideia do nervoso miudinho que me deu.
Partida dada. Sentia-me bem e segui naquele ritmo louco das primeiras centenas de metros ouvindo à minha volta os gritos das centenas de pessoas nas ruas da Amadora. Ainda nem tinha acabado o primeiro quilómetro e já estava separado o trigo do joio. Um grande grupo de atletas em que se destacava as camisolas vermelhas e verdes do Benfica e do Sporting seguia já quase uma centena de metros à minha frente. Facto engraçado: estou habituado a confundirem o meu equipamento com as cores de atletas espanhóis. Mas só em provas noturnas é que algum público teima em gritar pelo Benfica quando me vê passar. Mas pronto que gritem e berrem que o pessoal gosta!
Dois quilómetros e duzentos metros depois, a primeira subida da Amadora deu tréguas e até aos 3 quilómetros foi possível recuperar o folgo. Mas não foi tempo de abrandar. Algumas posições que eu ganhei a subir, foram logo ameaçadas na descida. Segui num bom esforço em ritmos perto dos 3:10\km.
Um pensamento que tive várias vezes durante a prova, foi o facto de me sentir bastante bem em ritmos altos quando seguia em plano. É sinal de evolução e sinal que podem vir meses de algumas surpresas em 2017. Mas estes pensamentos na Amadora duram pouco. Quando dei por mim na famosa subida dos Comandos que este ano foi reintroduzida na prova. Quem me acompanha sabe que o ano passado foi a primeira vez que fiz esta prova e por isso mesmo não estava preparado mentalmente para a subida que vi à minha frente meio do 5º km. Puxei dos galões e segui num ritmo certinho e quando a respiração estava a atingir níveis preocupantes uma senhora que estava no meio da estrada a apoiar os atletas "gritou-me" para eu controlar a respiração que a subida estava quase a acabar. E assim começou a segunda parte da prova.
Até agora ainda não mencionei uma coisa. Não sei porquê, mais uma vez cai num vazio classificativo, seguindo praticamente sempre sozinho apenas com alguns atletas no meu horizonte. Mesmo nesta prova com um maior nível de competitividade, não consegui encontrar ninguém com quem entrar em despique. Sim porque a verdade é competitividade é saudável, quer na frente, no meio ou no fim do pelotão. É ela que nos faz transcender.
Mas a partir dos 6/7 quilómetros isto mudou. Um atleta do CUAB que até costuma ficar à minha frente em provas de 10km apanhou-me seguindo em grande ritmo e eu aproveitei a embalagem para seguir com ele. Os últimos dois quilómetros sempre a descer não me foram muito benéficos e segui sempre um pouco mais atrás que ele. Já no último quilómetro tive a surpresa de ouvir o meu treinador gritar por mim e dizer-me que quem seguia à minha frente estava quase a rebentar. Foi ai que eu cometi um erro. Pensei que estava já na reta para a rotunda antes da meta e fiz um esforço enorme para acelerar e quando dou por mim estou na penúltima rotunda em que se faz a última viragem. E senti que psicologicamente e fisicamente dei o estoiro. Podem ver pela minha cara na foto em baixo.
Fonte: Luis Duarte Clara |
Fonte: RUN FFWPU |
Tenho que agradecer ao meu treinador André Filipe pelo trabalho que tem feito comigo, pois esta preparação toda parte da cabeça dele. E o melhor ainda está para vir! E podia-me desdobrar aqui em agradecimentos a toda a gente que me apoia direta e indiretamente mas este post nunca mais acabava! Obrigado a todos!
E poderia dizer que agora é voltar aos treinos em força mas há quem tenha juízo por mim e seguem-se dias de descanso com treinos curtos e com pouca intensidade. Vão saber pouco bem este dias vão :) Um feliz ano para todos!
Resultados: 42ª São Silvestre da Amadora
related posts
42ª São Silvestre da Amadora
janeiro 1, 2017
4
Muitos parabéns! Acabaste o ano com mais uma grande prestação e melhoraste o teu tempo num percurso mais duro.
ResponderEliminar2017 promete ainda mais...
Um abraço e um excelente ano para ti e todos os teus
Obrigado João!
EliminarPromete ainda mais para os dois :)
Um grande abraço
Espectáculo!! bela forma de acabar um excelente ano, e um bom sinal para o que de bom virá em 2017. Bom Ano.
ResponderEliminarAbraço
Espero que sim :)
EliminarUm bom ano grande perneta! Abraço