São Silvestre de Lisboa e Amadora 2024



Este artigo já vem tarde e a mais horas, e a verdade é que depois destas provas já mais de 200 São Silvestres aconteceram e ainda vão acontecer. Este é o artigo que vai descrever as duas provas de São Silvestre em que participei no final do ano e que na verdade podia ter o título Campeonato São Silvestre, pois esse é o nome que é dado pela HMS ao conjunto das duas provas. Porquê que eu decidi escrever as duas provas no mesmo artigo? Porque curiosamente fiz exatamente o mesmo tempo, ao segundo, nas duas provas, embora sejam provas de perfis completamente diferentes, e que tive sensações até completamente diferentes, quer se tenha sido no início, quer tenha sido a meio da prova, quer tenha sido até no fim da prova.

Começando pela São Silvestre de Lisboa, esta era a minha prova objetivo. Como descrevi no último vídeo em que fiz para o meu canal de YouTube, eu fui à São Silvestre do Seixal numa perspectiva de treinar, daí não ter escrito nenhum artigo, e a verdade é que foi um treino que correu tão bem que quase que ia fazendo recorde pessoal aos 10km. Foi uma prova que eu vou querer voltar, não digo para o ano, mas vou querer voltar porque adorei fazer a prova, achei a prova muito bonita, com um nível competitivo bastante alto e apanhado num tempo perfeito, é realmente uma prova em que se pode fazer um tempo excelente.

A verdade é que sendo o objetivo São Silvestre de Lisboa, o meu treino estava direcionado para o mesmo. Para o Seixal eu fiz mais de 100km na semana anterior e para Lisboa fiz um tapering como deve ser. O que não fiz como deve ser porque, infelizmente, porque a vida não o permitiu, foi uma boa recuperação: a nível físico e até a nível mental. Desde das festas, desde o meu miúdo ter estado doente, desde a própria São Silvestre do Seixal que não recuperei nada bem fisicamente dela, desde ter cometido aqui e ali uns erros também que poderia ter descansado mais e não o fiz. Todos estes erros misturados pagaram-se a meio da São Silvestre de Lisboa.

O objetivo de ir à São Silvestre de Lisboa foi o nível competitivo. Muitas das vezes uma pessoa vê-se sozinha numa prova e, tal como, por exemplo, aconteceu nos Descobrimentos, isso pode-nos fazer quebrar mentalmente. E o objetivo era ter alguém com que ir ou, pelo menos, ter atletas que me acompanhassem e conseguir, com isso, ter uma boa performance. A verdade é que isso acabou por não acontecer.

A partida foi dada num excelente ritmo. Sentia-me bem, sentia-me muito bem. Fiz o primeiro e o segundo quilómetro num excelente ritmo, sempre bem acompanhado e sempre sentindo-me solto. Fui saltitando nos primeiros quilómetros de grupo em grupo, sempre com atletas para apanhar, e volta e meia havia algum atleta que seguia comigo, mas ali, a partir do 3º/4º km, fiquei com um atleta que vinha atrás de mim, mas literalmente não via mais ninguém à minha frente. Fiquei ali numa terra de nenhures porque, honestamente, o atleta que seguiu comigo nunca veio para a frente nem nunca veio para o meu lado, e portanto a nível competitivo era como se viesse sozinho porque o que eu queria estar ali era a ser puxado e puxar, e não sentir que ia sozinho e que estava a ser combóio para alguém. Claro que isto é uma situação normal qualquer prova simplesmente não era aquela sensação que eu queria ter naquela prova por ter estado a treinar para ela e tê-la como principal objetivo antes do final do ano.



A verdade é que a partir do 5º/6º quilómetro até à subida da Avenida da Liberdade, a prova tornou-se algo inglória, pois o ritmo desceu um bocado e não o consegui subir porque não tinha estímulo para tal. E o pior veio quando, uns metros antes da Avenida da Liberdade, aí sim sendo honesto, atingi uma total sensação de falta de pernas e não consegui de todo imprimir o ritmo que queria. Tive uma quebra de ritmo de tal forma brutal, que inclusive, o atleta que veio sempre atrás de mim facilmente foi para a frente e facilmente me ganhou uma distância também brutal, porque claramente vinha ainda cheio de força. A única coisa que me deu ânimo foi o dar a volta à rotunda do Marquês de Pombal e tentar puxar para ganhar ritmo e apanhar algumas atletas femininas (que partiram 5 minutos antes dos atletas masculinos de elite) que se encontravam no meu campo de visão, isto não pelo prazer das ultrapassar mas simplesmente como quase uma, figurativamente obviamente, cenoura para conseguir continuar a acelerar e puxar para não simplesmente para não morrer.

O tempo oficial foi de 32m48s, para um 27º lugar na geral. Para ser honesto foi daquelas provas que fiquei a remoê-la durante bastante tempo. Sabem como é que eu sou, eu ultrapasso a coisa depressa e isso não afetou minimamente a minha na cabeça a nível de ter vontade de treinar ou assim, mas a verdade é que afetou de alguma forma. Fiz um erro de planeamento e até em discussão com o meu treinador percebemos que planeámos mal a coisa, e devíamos ter tido o Seixal como objetivo e não devia ter estado simplesmente presente na São Silvestre de Lisboa. Como toda a gente sabe eu não gosto de fazer provas fim de semana sim, fim de semana sim, porque gosto de recuperar das mesmas e, na verdade, eu não recuperei bem do Seixal e paguei a fatura muito cara na São Silvestre de Lisboa. Uma prova que deveria ser até fácil, não tão fácil como a de Seixal, mas fácil. E a verdade é que isso não aconteceu, nem eu senti disponibilidade física para tal. E curiosamente mesmo tendo retirado carga, não senti a disponibilidade física que senti no Seixal em que me senti bastante bem, e que ai apesar de obviamente com o esforço associado aos 10km senti que até poderia até ter feito mais se (tal como explico no vídeo) ainda tivesse tido algum estímulo competitivo a partir dos 5 km, em que mais uma vez me encontrei sozinho até dos 5 aos 10 km finais.




Nota 1: eu sei que nunca vão mudar o percurso da prova, mas muita gente me deu o feedback, que tal como eu, se sentiu em algum perigo durante certa parte da prova, pois haviam muitos buracos, havia muito pouca iluminação, e as pessoas sentiram-se muito desacompanhadas durante essa parte do percurso (basicamente toda a parte na 24 de Julho e Ribeira das Naus) nada estimulante. Portanto, vejam o que é que conseguem fazer para o ano. Duvido que vá mudar alguma coisa por já ser um percurso algo mítico. Mas acho que seria bom analisar se não há alternativa àquela parte do percurso, ou pelo menos melhorar as condições do mesmo.

Nota 2: eu sei que os números foram estrondosos, mas eu e muita gente com que falei nem tinha reparado que a prova era às 21h30, se não não tinha ido (tal como eu). Por isso, eu sei que nisto não são vocês que mandam (HMS), mas vejam o que podem fazer porque arriscam-se a perder muitos atletas. É simplesmente demasiado tarde.

Resultados: LIDL São Silvestre de Lisboa 2024

Passando agora para menos de 72 horas depois, fui até à Amadora para fazer a “mítica” São Silvestre. Fiz massagem desportiva na segunda. Só corri uma vez na segunda-feira de manhã, muito devagarinho. Mas a verdade é que, mesmo com todas estas mesinhas e mais algumas mesinhas em casa, a verdade é que cheguei à Amadora e sentia-me um farrapo completo. A diferença aqui é que, em Lisboa, eu só o senti a meio da prova. Durante o aquecimento cheguei a confidenciar ao Rui Martins e Bruno Lourenço, numa zona que estávamos com um declive um pouco pronunciado e eu sentia certas zonas das pernas tão doridas, que para mim não me estava a fazer sentido nenhum estar ali e o que me apetecia era voltar para casa.

A verdade é que tendo o dorsal já posto e não querendo deixar de representar a minha equipa o GFD Running, obviamente escolhi não ir para casa e em boa hora não o fiz. Uma decisão que eu tinha tomado nos últimos dezenas de horas na minha cabeça é que a São Silvestre da Amadora iria ser feita sem pressão. Não ia lá para ganhar nada, não ia lá para tempos e não valia apenas estar-me a meter pressão sabendo que estava longe de estar sequer a 90%. Logo ao início da prova quando tenho as primeiras sensações nas pernas, percebi que não estava em péssimo estado, estava só em mau estado. Mas fiz algo que nunca tinha feito na vida.

Naquele momento em que percebi que estava a conseguir correr (e competir) sem me sentir um completo inválido, decidi que ia correr sem olhar uma única vez para o relógio. Nem para o relógio, nem para trás, nem para o lado. Deixei-me ir por sensações. Foi uma prova extraordinária por essa decisão. Desfrutei da prova, desfrutei do público, desfrutei do esforço que estava a fazer, e durante a prova desfrutei de todas aquelas descidas, odiei e desfrutei ao mesmo tempo as subidas. Mas mais uma vez consegui ficar sozinho a partir dos 3/4km. 




Alguém me explica o que é que se passa aqui? Não faz sentido! A única coisa que à semelhança do Seixal (mas que não tive nem em Lisboa) foi que ao menos tinha um atleta no meu campo de visão e foi esse atleta que curiosamente acho que nem, praticamente nunca me aproximei dele, mas também nunca se distanciou, ou seja, andámos sempre ali ao mesmo tempo e foi ele que mentalmente me fez nunca parar de puxar e que bem que isso me soube principalmente a seguir à subida dos Comandos, em que para muitos atletas é significado de um completo fanico físico nessa altura da prova. Curiosamente, a partir daí, então, comecei a puxar, a puxar, a puxar e acabei por fazer alguns dos meus melhores quilómetros da prova e até das últimas duas provas.


Acabei por passar a meta exatamente nos mesmos 32m48s de Lisboa, terminando em 24º da geral (alguém faz ideia de onde se pode consultar o resultado do Campeonato da São Silvestre?). Terminei com uma sensação de que fui conseguir cumprir aquilo que queria. Honestamente, pelas sensações que tive na prova, esperava ter visto algo melhor no cronómetro final, mas não fiquei chateado porque consegui fazer o possível e tive boas sensações durante a prova, e acabei por até nem ficar pessimamente mal colocado.

Agora a realidade: passados estes dias todos, ainda estou a pagar a fatura destas provas de forma consecutiva e ainda não estou longe de estar em boas condições físicas. Uma certa menina que vai brevemente nascer vai-me obrigar a “descansar”, por isso vamos ver o que é que me espera daqui a umas semanas! Espero que continue a ser aquele que gosta de correr e não aquele que gosta apenas de dormir e trocar fraldas.

Fiquem bem, divirtam-se, e bons treinos. Vemo-nos por ai!




provas
janeiro 8, 2025
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